quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O Homem Que Conhecia as Mulheres

O réu, um vendedor de pastéis e caldo de cana em uma Kombi.
A acusação. Atuar na ilegalidade como médico e psicólogo.
Não errava um conselho amoroso aos seus clientes.
Motivo da acusação. Bares e prostíbulos da região esvaziaram após seus conselhos.
Homens não tinham mais motivos para recorrer a garotas de programa e bebidas.

Segue abaixo trecho deste conto de Marcelo Rubens Paiva:

...

"Minha assistente tem uma pergunta, senhor juiz."

A assistente, única mulher da sala.

"Uma pergunta. O senhor é casado?"
"Não."
"Namora, tem casos?"
"Sou sozinho."
"Já se casou, noivou, namorou?"
"Nunca."
"Nunca?"
"Sim, nunca."
"Então o senhor não conhece as mulheres."

...
Não há prática ilegal da medicina ou conexos. Há criatividade e alusões, como nas obras de ficção. O réu não conhece as mulheres, não as entende. As inventa. É um poeta, não um curandeiro. E poesia não cura.
...

Ele liberado, na saída do tribunal, esperando o farol de pedestre abrir, com seu advogado e a assistente, disse, antes de nunca mais ser visto:

"Sua defesa foi boa, doutora. Mas o raciocínio é ao contrário. Por entendê-las, não consigo me apaixonar ou conviver com elas. Perde o encanto. É o mistério que mantém nosso interesse."

"Você está dizendo que paixão é mistério?"

"Adeus"

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